sexta-feira, outubro 27, 2006

Laureado 2005 - Herberto Hélder

Procurei incansavelmente descrever com minhas próprias palavras o que sentia com relação ao livro “Os Passos em Volta”. Falhei em todas tentativas. Humildemente, resolvi emprestar-me da singular “escala adjetival” do amigo Tony Azevedo. Assim, fica dito: esse é o mais genial livro de contos da história do universo em todos os tempos passados e futuros. Opinião radical? Somente para aqueles que ainda não o leram.

De modo extraordinário, Herberto Hélder, tece textos filosóficos sobre a vida que não contam histórias, pois isso é coisa de romancistas e não de escritores. Herberto é um escritor. E um dos maiores.

Herberto, obrigado por me ensinar que literatura não é para contar histórias, mas para nos ajudar a compreender e construir o mundo. Nesse 2005, meus louros são seus.

«L.M»

“Quando o primeiro bonde de Santa Teresa desceu no sábado de manhã repleto de turistas, cometeu um equívoco. Habituado a guiar-se pelos trilhos, pouco antes de chegar ao largo dos Guimarães, ele tomou a liberdade de seguir seu caminho pelos paralelepípedos. Uma decisão imprópria e desaconselhável a quaisquer tipos de transportes ferroviários, inclusive, como no presente caso, aos bondes, pois tal situação transcende à natureza inerente de um trem. Esta transcendência de natureza causou a morte de muitas pessoas naquele dia tão comum. Porém, para felicidade dos teóricos do conhecimento, os objetos não são capazes de alterar sua própria natureza, papel permitido apenas aos sujeitos e, preferencialmente, humanos. Foi um desses sujeitos que alterou a natureza do bonde naquela ocasião.”

(Leandro Müller, in Regras de Conduta de Gachet-Gaston)

Rio de Janeiro, 14 de Novembro de 2005

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